Split Payment e Microempresas: por que a calibragem é essencial na reforma tributária
- Em 5 de setembro de 2025
A Lei Complementar nº 214/2025, que instituiu o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), trouxe ao sistema tributário brasileiro o mecanismo do split payment.
Nesse modelo, o valor do tributo incidente sobre cada operação é automaticamente desmembrado e transferido ao Fisco no ato do pagamento da nota fiscal, sem passar pelo caixa do contribuinte.
A novidade representa um avanço para a segurança da arrecadação e redução da inadimplência, mas impõe desafios significativos, sobretudo para micro e pequenas empresas (MPE).
Como o split payment impacta as micro e pequenas empresas
Embora eficiente sob a ótica fiscal, o split payment retira imediatamente do contribuinte a parte relativa ao tributo, afetando diretamente o capital de giro.
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Grandes corporações: possuem maior fôlego financeiro e acesso a crédito, conseguindo absorver os impactos.
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Micro e pequenas empresas: operam com margens estreitas e forte dependência de recursos de curto prazo, sofrendo desproporcionalmente com a retirada imediata de caixa.
Esse cenário cria um desequilíbrio que pode afetar a liquidez e a sobrevivência de milhares de pequenos negócios.
A necessidade de calibragem do split payment
A solução não é extinguir o mecanismo, mas sim calibrar sua aplicação para as MPE. Essa calibragem pode ocorrer de diferentes formas:
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retenção parcial do IBS e da CBS no ato do pagamento, com complemento no fim do período de apuração;
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prazos de repasse mais flexíveis, ajustados ao ciclo financeiro das empresas;
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utilização de contas transitórias que equilibrem arrecadação e liquidez mínima para o contribuinte.
Assim como um músico calibra ritmo e intensidade para manter a harmonia da música, o sistema tributário precisa ajustar a intensidade da cobrança para não sufocar os contribuintes menores.
Base constitucional para o tratamento diferenciado
A calibragem do split payment não é um privilégio, mas uma exigência constitucional. O artigo 179 da Constituição determina que União, estados e municípios devem dispensar às microempresas e empresas de pequeno porte tratamento diferenciado e favorecido, como forma de incentivo e proteção.
Aplicar o split payment às MPE da mesma forma que às grandes corporações seria negar essa proteção constitucional, colocando em risco sua competitividade.
Estímulo à formalização e à concorrência justa
Além de preservar a liquidez das MPE, a calibragem pode estimular a formalização. Se o regime de IBS e CBS for percebido como financeiramente viável, mais empresas terão interesse em migrar para a formalidade, ampliando a base de contribuintes e fortalecendo a arrecadação.
Esse equilíbrio favorece:
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neutralidade concorrencial, evitando distorções entre grandes e pequenos;
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equidade fiscal, ajustando a cobrança à capacidade econômica do contribuinte;
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sustentabilidade empresarial, essencial para o desenvolvimento econômico.
Conclusão: equilíbrio entre eficiência e justiça fiscal
A implementação do split payment precisa ser acompanhada de ajustes calibrados para micro e pequenas empresas. Sem isso, o mecanismo corre o risco de sufocar negócios de menor porte, enfraquecendo a competitividade e contrariando a lógica da reforma tributária.
Com a calibragem correta, porém, o sistema se torna mais inclusivo e equilibrado, garantindo eficiência arrecadatória, justiça fiscal e estímulo ao crescimento sustentável do setor produtivo.
Fonte: Conjur
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